Jovem e ingênuo era quando há muitos, muitíssimos anos, alguém me convenceu a fazer um seguro de vida, sem dúvida do mais rudimentar que então se praticariam, vinte contos que me seriam entregues passados vinte anos no caso de não ter morrido, claro está, não ficando a companhia obrigada a prestar-me contas dos eventuais lucros do minúsculo investimento e suas aplicações e muito menos fazer-me participar deles. Ai de mim, porém, se não pagasse os prêmios respectivos. Nessa época, os vinte contos era muito dinheiro para mim, necessitava trabalhar quase um ano para ganhá-los, e, portanto fizeram-me bom arranjo quando mos pagaram, mas o que não pude foi evitar um desagradável sentimento de desconfiança que me dizia, e insistia que eu havia sido prejudicado, embora não soubesse exatamente como. Nessa altura não era só a chamada letra pequena que nos enganava, a própria letra grande já era um punhado de poeira atirada aos olhos. Eram outros tempos, a gente comum, na qual eu me incluía, sabia pouco da vida e mesmo esse pouco de pouco lhe servia. Quem se atreveria a discutir, já não digo com o atuaria, mas com o próprio angariador de seguros, que tinha a lábia toda?
Hoje já não é assim, perdemos a inocência e não fugimos a discutir com a maior das convicções até mesmo aquilo de que só temos uma pálida ideia. Que não nos venham pois com histórias, bem te conheço, ó máscara. O mau é que se as máscaras mudam, e mudam muitíssimo, o que está por baixo delas mantém-se inalterável. E nem sequer é certo que tenhamos perdido a inocência. Quando Barack Obama, no calor da campanha para a presidência, anunciou uma reforma sanitária que permitisse proteger os 46 milhões de norte-americanos não abrangidos pelo sistema em vigor para os restantes, isto é, aqueles que, direta ou indiretamente, pagam os seguros respectivos, esperávamos que uma onda de entusiasmo varresse os Estados Unidos. Tal não sucedeu e hoje sabemos por quê.
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